Em 2021, uma tese acadêmica escrita por George Miguel Thisoteine Uspe propôs uma análise dos grupos MGTOW (Men Going Their Own Way) no Brasil, estabelecendo paralelos com o filme Clube da Luta e categorizando suas manifestações em dois eixos: consumismo e masculinidade supremacista. De acordo com o autor, haveria uma ligação direta entre frustrações masculinas e a adoção de comportamentos violentos e autodestrutivos.
Contudo, uma leitura crítica e embasada revela que essa interpretação é reducionista, sensacionalista e metodologicamente falha. Este artigo se propõe a desconstruir essa narrativa, resgatando o verdadeiro espírito do movimento MGTOW: a busca por autonomia, liberdade pessoal e resistência ao sistema que instrumentaliza os homens.
Resumo da Tese de Uspe
O trabalho de George Uspe faz uma ponte entre a representação cinematográfica da masculinidade (via Clube da Luta) e a expressão discursiva de membros da comunidade MGTOW em ambientes digitais brasileiros. O autor propõe duas categorias principais:
Consumismo:
Argumenta-se que o MGTOW reproduz um comportamento de consumo individualista que seria reflexo da lógica neoliberal. A escolha por "sair do mercado sexual" e investir em si mesmo seria uma forma de rebeldia superficial, capturada pelo capitalismo.
Masculinidade Supremacista:
O segundo eixo associa MGTOW a um suposto desejo de retorno a uma ordem patriarcal, com traços autoritários e misóginos. Aqui, o autor tenta aproximar MGTOW de ideologias extremistas.
A conclusão da tese é que o MGTOW representa uma forma de frustração canalizada em discursos de ódio, num espiral de ressentimento, autodestruição e alienação.
Crítica Metodológica: Fragilidade e Viés Ideológico
Seleção Viciada de Fontes:
A pesquisa se apoia em recortes altamente seletivos de comentários em fóruns e redes sociais, ignorando a pluralidade de vozes e experiências dentro da comunidade MGTOW. As fontes são escolhidas para reforçar a hipótese inicial do autor, comprometendo a imparcialidade do estudo.
Ausência de Contrapontos:
Não há entrevistas com membros da comunidade, nem consideração de relatos positivos. Ignora-se completamente o aspecto filosófico e existencial do MGTOW, que preza pela construção pessoal, independência financeira e proteção emocional.
Generalizações Perigosas:
O estudo assume que manifestações individuais em espaços online representam toda a comunidade, criando uma caricatura baseada em exceções.
Equivalência Inadequada com Clube da Luta:
Usar uma obra ficcional como lente de análise pode ser intelectualmente estimulante, mas torna-se problemático quando se pretende representar uma comunidade real. A figura do protagonista de Clube da Luta é marcada por distúrbios mentais e comportamentos destrutivos que não são representativos do homem MGTOW médio.
A Verdade Sobre o MGTOW: Autonomia, Não Supremacia
Ao contrário da narrativa promovida na tese, o movimento MGTOW é, em sua essência, uma forma de resistência individual e pacífica. É um posicionamento consciente frente às pressões sociais, legais e afetivas que recaem desproporcionalmente sobre os homens.
Autoproteção: Muitos aderem ao MGTOW após experiências traumáticas com divórcios, alienação parental ou abusos legais.
Crescimento pessoal: O foco é em desenvolver a si mesmo, longe de dinâmicas românticas disfuncionais. Muitos homens relatam melhora financeira, emocional e psicológica.
Rejeição voluntária: Ao contrário do discurso de "ressentimento sexual", a maioria dos MGTOW opta conscientemente por se afastar de relacionamentos por não se sentirem seguros ou valorizados neles.
O Perigo da Demonização Acadêmica
Quando uma tese acadêmica busca criminalizar ou patologizar um grupo com base em estereótipos e recortes tendenciosos, ela deixa de cumprir seu papel científico e passa a ser uma ferramenta de propaganda ideológica.
Este tipo de abordagem estigmatiza homens que estão simplesmente tentando se proteger e buscar sentido em um mundo que frequentemente os ignora. Em vez de promover diálogo, essas teses alimentam o preconceito e fecham espaços de compreensão.
A tentativa de associar o MGTOW a comportamentos violentos e destrutivos não apenas distorce a realidade como também contribui para a marginalização de um movimento pacífico e introspectivo. É urgente que a academia se livre de seus vieses ideológicos e trate os movimentos masculinos com a mesma seriedade e empatia com que trata outros movimentos sociais.
O MGTOW é, acima de tudo, uma expressão de liberdade. E não há nada mais revolucionário do que um homem que se recusa a se sacrificar por um sistema que não o valoriza.
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Denegrir mgtow é o novo desafio deles
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